terça-feira, 27 de maio de 2008

Sua excelência, o enlatado


Não é um carro qualquer. É um Mercedes. E também não é um Mercedes qualquer, é um S 400. Olhem para mim e tremam, seus camponeses miseráveis!

Agora que os automóveis conquistaram todos os espaços possíveis e imagináveis (e alguns impossíveis e inimagináveis) das ruas e praças de Lisboa, agora que a praga enlatada arruinou a qualidade de vida da cidade, impediu as crianças de brincar na rua e os idosos de andar pelos passeios, há muito transformados em estacionamentos... Agora que nenhuma pessoa normal se sente capaz de se deslocar a pé pela cidade com um mínimo de conforto e segurança... Será que podemos ficar satisfeitos? Podemos descansar e saborear a vitória absoluta?

Não. O nosso trabalho ainda não está acabado. Essas monstruosidades das scooters e motos, que têm o atrevimento de poluir e estorvar muito menos, arranjaram maneira de ter lugares próprios de estacionamento. Só em dois ou três locais em toda a cidade de Lisboa, exactamente ao contrario do que sucede noutras capitais europeias, onde existem centenas. Mas mesmo isso é intolerável, ali onde cabem umas oito motos posso estacionar eu, que sou um tipo importante e tenho mesmo que ir às compras...

Mais gasolina

Não, não estou a falar do site da moda o tal que indica os preços dos postos de abastecimento mais baratos. Quero falar é do clima que se vive actualmente à volta deste assunto. Até parece que o preço da gasolina não era já caro desde há anos. E de repente começa tudo a ficar assustado, inventam-se mil e uma maneiras de poupar na despesa da gasosa. Sempre com soluções estrambólicas, aumentar a pressão dos pneus, tirar peso, fechar os vidros, colocar gás nos pneus, conduzir sempre em quinta... Nunca se questiona é o fundamental: o uso do carro. Isso é que não. O carro é sagrado. Precisam mesmo dele, dizem. Sem ele não podem trabalhar, protestam. Pois sim.

Por mim, ainda tenho esperança que estes aumentos levem as pessoas a repensar a vida que levam e a (pouca) qualidade que essa mesma vida enlatada tem.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

O Scooterista Hardcore


Desde que voltei a andar de scooter, depois de dois meses parado, não quero outra coisa. Na verdade, até ando a despachar mais quilómetros diários que anteriormente. E a fazer coisas que antes não fazia. Nestas duas semanas, já perdi a conta às molhas que apanhei, às vezes que entrei em vias rápidas e às misturas de ambas as coisas. Não há muito tempo, eu fugia destas duas situações como alguns notáveis da nossa praça fogem à justiça. Agora... Chuva torrencial na CRIL? no problem. Segunda circular à noite e a chover cães e gatos? Tá-se.

Até ver, sem problemas, sem sustos. O enlatado portuga ainda tem muito que se civilizar, mas eu aceito os riscos. Porque vale a pena e há dias em que se ando com um sorriso de orelha a orelha é à conta da Scoopy.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Na Bomba

Hoje de manhã estava a abastecer perto de casa e o homem que estava a encher um furgão do outro lado da bomba diz qualquer coisa como "Isto está bom é para andar de bicicleta", enquanto olha para a Scoopy. Eu olho, também, e tanto quanto me lembro a Scoopy é um bocado diferente de uma bicicleta, mas não comento. Digo-lhe que andar de bicla não é nada mau. Ele deixa-se estar a olhar para a minha Honda, enquanto segura com ar triste na pistola e o valor a pagar pelo combustível do seu Mercedes Vito vai crescendo e crescendo... Eu espero um bocado, e com um sorriso, em jeito de confidência, aplico o golpe de misericórdia:

-Gasta 3 litros aos cem...

sábado, 17 de maio de 2008

Uma manhã, quatro concelhos

Só boas ideias. Primeiro, alinhei numa caminhada numa manhã de Sábado. O meu fisioterapeuta torceu o nariz, "ainda é muito cedo" dizia, e afinal, para eu ter dores está lá ele! Depois resolvi ir ao passeio de scooter, na minha tentativa de provar que é possível ir a todo o lado gastando, estorvando e poluindo menos. (E tendo pelo caminho um gozo do caraças!)



Foi assim que esta manhã de céu limpo e amenas temperaturas me apanhou a cruzar a marginal de uma ponta à outra, de Santa Apolónia ao Cabo da Roca, cruzando os concelhos de Lisboa, Oeiras, Cascais e Sintra. Foram uns 120 km, mais a caminhada, que realmente foi demais para o meu pé!

Não deixa de impressionar-me como Lisboa tem sempre um trânsito muito intenso, mesmo numa manhã de fim de semana. Só depois de Cascais pude começar a descontrair e gozar os prazeres da estrada aberta. Desta vez, nada de ultrapassagens perigosas nem manobras estranhas por parte de enlatados stressados. A partir do Guincho, a estrada era minha! E que estrada. Não admira que este percurso tenha maravilhado gerações de motociclistas e scooteristas lusitanos. O conjunto de curvas que liga Cascais ao Cabo da Roca, num dia sem trânsito, são qualquer coisa de épico.


A determinada altura dei por mim a entrar demasiado depressa nas curvas. Eu, o super cuidadoso, o supra sumo da segurança rodoviária estava a dar cabo dos travões no final dos troços rectos e a enrolar o punho à saída das curvas, assim que a Scoopy endireitava. O motor andava sempre nas altas rotações e respondia muito bem. Depois os travões começaram a acusar alguma fadiga e eu ganhei juízo. As escarpas e declives que ladeiam as ultimas curvas antes do Cabo da Roca convidam à prudência.


No regresso, fiz paragem no ventoso Guincho, cheio de surfistas como de costume, e numa Cascais já preparada para a época balnear.


Que gozo passar de capacete aberto mesmo ao lado do mar, num sítio cheio de bicicletas, algumas scooters e poucos automóveis, como no centro da vila de Cascais. Por lá encontrei esta prima da Scoopy, uma Honda @ 125, que tem o mesmo motor, a mesma transmissão, mas rodas pequenas e umas roupagens diferentes.




Nada mau para aquilo que por cá se costuma chamar "o passeio dos tristes": a malta agarra no carro ao Sábado ou Domingo e vai dar uma volta pela marginal. A maioria nem chega a sair do enlatado para fazer seja o que for e como são muitos a ter a mesma ideia, é vê-los engarrafados entre Oeiras e Cascais, a passo de caracol, em qualquer fim de semana de bom tempo. O segredo para evitar esta tribo é sair cedo da cama.

Uma última palavra para os muitos ciclistas que vi pelas estradas de que tenho estado a falar. Continua a ser perigoso, continua a haver muita ignorância e desrespeito pelas bicicletas, mas dá gosto vê-los e a melhor maneira de os utilizadores de todo tipo de veículos de duas rodas reivindicarem os seus direitos é fazendo uso da estrada.

A importância das coisas simples


Há muito boa gente que descuida o elementar. Ainda ontem vi um tipo montado numa Honda Goldwing, uma mota de muitos quilos e ainda mais euros (cerca de 25.000) que levava um daqueles capacetes não homologados, a que os espanhóis chamam "quita multas". A Mota tinha todo o tipo de extras, como telemóvel com ligação sem fios, que o seu condutor usava ostensivamente. Mas não tinha um capacete eficaz, nem sequer legal. Se calhar o peso maciço da mota fazia o tipo sentir-se seguro e este tipo de ignorância e irresponsabilidade são comuns. Afinal há, como todos sabemos, quem ande de mota de calções e chinelos.

Não vou estar a falar aqui de todos os possíveis comportamentos de risco que alguns descerebrados exibem pelas nossas estradas. De todos não, só de um. As luvas! Todos os dias vejo pessoal a andar sem luvas. Assim que fica mais calor, aparecem mais motociclos na estrada. E aparecem também mais mãos a descoberto a conduzir estes veículos. Quem acha que as luvas tiram sensibilidade e não sei que mais desculpas mentecaptas, precisa de saber a história do meu amigo Nelson (um abraço, pá!). Homem do BTT dos sete costados, capaz de papar tanto 200 km em estrada como no dia seguinte descer a pista de DH em Sintra com uma perna às costas, o Nelson caiu no final de um passeio no mês passado. Tinha tirado as luvas para apanhar um pouco de sol nas mãos e eliminar as marcas brancas nas mãos que todo o bttetista exibe (o síndrome Pato Donald). Depois, uma distracção, um toque na roda de um companheiro, e... chão. A queda ocorreu num troço de ligação em asfalto e o pessoal rolava a uns 40 km/h. Esses apenas 40 km/h, uma velocidade muito modesta para um motociclo, deram azo a uma ida às urgências, com umas gramas de pele e carne a menos, um mês inteiro de baixa e grande desconforto físico. A luvas são imprescindíveis até numa bicicleta, como pode alguém andar de mota sem elas?


Para os acalorados que têm sempre a desculpa da temperatura, há luvas específicas de verão, que protegem menos, mas são muito melhor que nada. Estas são as minhas, já as tenho há quase dois anos e só posso dizer bem. As de cima, um prenda recente, salvaram as minhas mãos no acidente com o amigo do BMW que não sabe o que é aquele sinal hexagonal vermelho com umas letras...

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Gasolina e outras coisas giras


Esta foto foi tirada hoje, na área de serviço de Torres Vedras. Não cheguei lá de scooter, mas achei que merecia uma foto. Já o pessoal do posto não pensou da mesma maneira e a recolha de imagens foi de súbito interrompida por uma zelosa e algo histérica funcionária. Aparentemente é crime capital fotografar a placa do preçário num posto da Galp. Olhando para ela, até se percebe porquê...

Mas vamos lá à vaca fria: como é que com estes preços o pessoal continua a andar de carro? Tanto se tem falado dos 15 aumentos dos combustíveis no que vai de ano. Por acaso alguém tem reparado numa diminuição do número de automóveis na estrada? Menos engarrafamentos? Menos caos em Lisboa, menos automóveis em cima dos passeios, em segunda fila, a nascer das árvores? Não, pois não? Pessoalmente, eu acho que os portugueses são tão comodistas, tão bons a inventar desculpas, tão provincianos, que só começam a questionar o papel do seu grande-deus-carro quando o litro de gasolina chegar aos 5 Euros ou mais.

Eu hoje paguei quase 10 Euros de gasolina para atestar a Scoopy. Bem sei que ela estava sedenta, mas dez euros?! Para atestar uma scooter? OK, pronto, foram 9.99 Eur, por razões psicológicas, mas caramba! Nem faço ideia quanto custará atestar um carro, já me deixei disso à uns tempos, mas tem que doer. E ninguem pensa em mudar de vida? Todos alegremente enlatados e atrofiados até à última gota de petróleo.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

A máquina e o Homem

É estranho estar de volta à estrada. Não me entendam mal, é muito bom! Mas a correria para o trabalho, para a fisioterapia, para casa... Às vezes gostava só que o trânsito fosse diferente, que houvesse só um bocadinho mais de respeito e menos agressividade, menos loucuras. Não tenho medo, mas tenho consciência. E quero fazer mais coisas na vida que também me dão gozo.

Por outro lado, aqui no trabalho, frequentemente dou de caras com modelos muito interessantes, a semana passada estava uma Vectrix a carregar de uma tomada na casinha do segurança, não muito longe de uma Gilera GP 800 e uma Yamaha T Max 500 das novas, também por ali estacionadas. Não me parece que caísse bem na empresa eu colocar aqui fotos destes modelos de testes, por isso fico só a olhar e admirar estas novidades/raridades. Pena que as scooters não são muito apreciadas por cá, são sempre vistas como um parente pobre das motos "a sério". Tenho que ver se mudo isso...

sábado, 10 de maio de 2008

I'm back, baby!

Sim! Depois de dois meses e uns trocos, estou de volta ao assento confortável da velha Scoopy. Ainda estou a fazer fisioterapia, está a correr bem e com a ajuda de bons profissionais. O pé precisa de ser estimulado ( e, aparentemente, também precisa de ser apertado, torcido e esticado, até doer...) mas já não havia nenhum motivo para eu continuar a aturar taxistas e filas de trânsito. Estava com receio de ter alguma chatice quando pusesse o pé no chão, ao parar, mas não há problema. Custa muito mais andar!


Hoje fiz trinta e poucos quilómetros, só um passeiozinho até ao Parque das Nações, para desenferrujar. A Scoopy está uma maravilha, pegou à primeira, depois de 3 semanas parada. Depois engasgou-se, mas à terceira lá se aguentou. Os travões foram afinados e estão mesmo no ponto. Aquilo soube muito bem!

O tempo estava instável e havia mais enlatados que o desejado, mas mesmo assim deu para sentir o vento na cara e aquela sensação de liberdade... vocês sabem do que estou a falar!