terça-feira, 31 de julho de 2007

De scooter para a praia

Já tinha pensado nisso. Acabou por ser ontem. Por fim fui para a praia de scooter, depois do trabalho.

Ainda no Domingo tinha meditado na utilidade das scooters também neste tipo de utilização. Estava na Praia Grande e vi-me rodeado de motociclos por todos os lados, Vespas modernas, ao lado de Kymcos e Keeways de 50cc aos montes, mais DT’s novas e velhas, umas Maxiscooters (Piaggio X9, MP3, Yamaha Majesty, Suzuki Burgman, etc) e doses muito razoáveis de motas Honda e Yamaha utilitárias. Espalhadas havia também modelos mais aristocráticos: BMWs e desportivas “RR” de origem diversa. Havia também um número muito saudável de bicicletas espalhadas pela praia. Parecia que tinha recuado no tempo, o rácio de coisas de duas rodas/coisas de quatro rodas nunca me pareceu tão equilibrado. Era uma espécie de viagem no tempo, o regresso a um passado não tão distante em que nem todos estavam ainda rendidos à adoração de O Grande Deus-Carro. Os proprietários dos infindáveis enlatados pagavam aliás caro o seu comodismo, com longas esperas tanto para aceder à zona da praia como para conseguir depois de lá sair, com o risco acrescido de levarem uma recordação para casa na forma de mossas e marcas novas na viatura, como me foi comentado e em poucas horas no local pude de facto constatar.

Resolvi pois aproveitar também mais esta vantagem de ter uma scooter e decidi ir para a Costa da Caparica, mais a Marta, a minha namorada, apanhar um pouco de Sol. Achámos que seria mais pitoresco ir de barco e fomos a Belém apanhar o tradicional Cacilheiro. A viagem pela marginal só foi ensombrada pela infeliz presença dos habituais camiões-aceleras. Enfim em Belém descubro que não há ferries para a Trafaria, só os Cacilheiros normais. Mas há, graças às obras que impedem que aportem no Cais do Sodré, ferries para Cacilhas. Assim andámos um pouco para trás e depois compensámos o atraso com um agradável passeio pela margem Sul, quase com sabor a pequena viagem, principalmente porque não conhecíamos aquelas paragens, habituados que estávamos a utilizar a via rápida da Costa, que desta vez decidimos evitar. Passámos no Cristo Rei, vimos umas casas interessantes, zonas de habitação bem tranquilas que nem pareciam estar às portas de Lisboa. Tivemos ainda oportunidade de nos cruzarmos com um scooterista montado numa inconfundível Piaggio MP3, que teve direito a acenos espontâneos de aprovação de parte de nós os dois.


Na praia naturalmente evitámos todas a confusões e arrumámos a Scoopy bem perto do acesso pedonal, onde havia neste caso somente dois outros motociclos. A praia estava cheia, mesmo muito cheia e parecia que onde quer que nos deitássemos ficávamos praticamente ao colo de alguém... Depois, com o pôr do Sol, rumámos ao centro da Caparica, deixámos a scooter em cima de um passeio onde não estorvava ninguém e fomos aos caracóis. Alguns petiscos depois, já tarde, mas ainda na presença de um calor abafado, atravessámos o Tejo pela ponte, tranquilamente, e em pouco mais de vinte minutos estávamos em casa. Nada mau para um dia de semana...

sexta-feira, 27 de julho de 2007

O estado a que chegámos

Dizia o personagem de Salgueiro Maia no filme Capitães de Abril: "há o estado comunista, o estado capitalista e há o estado a que chegámos..." Era esse estado a que o país tinha chegado em 1974 a que ele se propunha dar um fim. Pois este é o estado a que chegou Lisboa. E não há quem lhe ponha um fim.

Não estou recenseado ainda na capital, mas se pudesse participar, não faço ideia em quem poderia ter votado nas recentes eleições. Nenhum, nenhum candidato falou de alguma coisa que me parecesse ser um projecto credível, exequível , para os problemas de fundo da cidade. Nenhum mencionou mais que um ou dois lugares comuns sobre mobilidade e qualidade de vida. Só Carmona Rodrigues, conhecido motard, falou em medidas, poucas, que podiam vir ao encontro das expectativas dos utilizadores das duas rodas. Mas Carmona já esteve dois anos à frente da câmara e nesse tempo nada fez para, por exemplo, desmontar as famigeradas bandas amarelas na rua da Junqueira (que aliás ele próprio apadrinhou), remover um metro que fosse dos carris de eléctrico desactivados, ou abrir mais corredores BUS e permitir o seu uso pelas motas e scooters. Porque havíamos de acreditar que isso iria fazer alguma coisa agora?

Dos outros candidatos... Telmo Correia, também utilizador ocasional das duas rodas, disse umas coisas simpáticas à Motociclismo (edição 195), mas todos os outros candidatos também disseram à revista o que pensavam que os seus leitores/eleitores queriam ouvir, e nenhuma dessas medidas foi divulgada em outros meios de comunicação social como sendo prioritária ou mesmo como fazendo parte do programa do/a candidato/a.

O vencedor, António Costa, ainda foi o que mesmo à Motociclismo menos disse sobre as duas rodas serem parte da solução e não do problema. Umas palavras vagas sobre "melhorar os transportes públicos" e "reforço da fiscalização do estacionamento" foi tudo o que lhe consegui ouvir sobre mobilidade urbana durante a campanha. E apoiar a implementação da directiva europeia 91/439/CEE favorecendo o uso de pequenos motociclos na cidade? Criar lugares de estacionamento para motos? (sendo que actualmente é quase ilegal estacionar um motociclo em Lisboa: ou é em cima do passeio ou se ocupa um lugar da EMEL). E a já mencionada eliminação de carris de eléctrico? E a abertura de mais corredores BUS, abertos também a motociclos? Nada. Rien. Nem vou falar em tapar os buracos, melhorar a sinalização, construir ciclovias... Utopias... Lamentavelmente prevejo portanto mais (pelo menos) dois anos do mesmo. Espero que ao menos se resolvam os problemas financeiros da autarquia, pode ser que daqui a uma década alcancemos o patamar em que os nossos vizinhos europeus se encontram, já que essa parece ser a medida do nosso atraso crónico.

Condução segura - Filmes

Para os iniciados, e não só, aqui ficam uns pequenos filmes elucidativos sobre segurança e condução de scooter. Falam de pormenores que nas escolas de condução nunca se mencionam. Estes clips do You Tube estão em castelhano, infelizmente por cá estamos ainda longe de produzir filmes realmente úteis de segurança rodoviária. Fica um pequeno glossário para os mais castelhano-chalenged:

Azeite: óleo
Abrochar: apertar, ajustar
Baches: buracos
Casco: capacete
Frenada, Frenos : travagem, travões
Passo de Zebra: passadeira (para peões!)
Peatones: peões

Filme 1

Filme 2

Filme 3

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Estão a tentar matar-me!

É essa a ideia que nos vem à cabeça quando, com a tinta da licença ainda fresca, nos lançamos de scooter (ou de moto) na confusão de Lisboa. Há uma década que conduzo automóveis e é preciso ser autista ou muito artista para não dar conta do rol de distracções, transgressões, abusos, e manifestos casos de "Chico-espertismo" que fazem das nossas estradas um autêntico campo de batalha. Mas os humanos adaptam-se a tudo, e com o tempo acabamos por considerar quase banal o pior que nos possam atirar.

Mas isso é assim enquanto temos à nossa volta pára-choques, chapa, zonas de deformação programada, airbags, cintos com pré-tensores... No dia em que, pela primeira vez, sem ser em aulas, sem ser no exame, sem ser no parque de estacionamento, me lancei (legalmente por fim!) no trânsito de uma louca sexta feira em hora de ponta, nos arredores da capital... o que senti foi isso mesmo: "esta gente está a tentar matar-me!"

Encontrei mais tarde, em inúmeros fóruns, a mesma experiência, a mesma sensação, mencionada por muitos principiantes nestas lides. No fundo é natural. Os automobilistas na verdade não querem matar-nos, ou melhor, é-lhes completamente indiferente se morremos ou não, desde que isso não os faça perder tempo. Eles estão muito ocupados a escolher CDs, estações de rádio, a falar ao telemóvel, a comer o pequeno almoço ou o lanchinho da tarde, a fazer a barba, retocar a pintura dos lábios, discutir com o pendura ou com os miúdos, regular o assento, usar o GPS, ou mesmo, como é comum ver-se na A5, ler o jornal ou utilizar um PDA ou portátil. Com tanta actividade quase se esquecem de conduzir. E o que vale é que os carros quase se conduzem sozinhos e são "seguros". Mas em cima de uma scooter de dois metros de metal e plástico, com tão só 130 kg de peso, a sensação é muito diferente. Segurança passiva não há, e a segurança activa depende em grande medida das nossas capacidades, ou falta delas, no caso de um recém encartado. Nestes primeiros tempos, tenho poucas oportunidades para gozar a sensação de liberdade, o prazer de sentir o ar fresco na cara, e mil coisas que, como disse alguém, não preciso mencionar a quem conhece e nunca conseguirei explicar a quem nunca experimentou.

Sim, ao princípio o que me ocupa é o condutor do carro da frente que trava sem razão, o que muda de faixa (para cima de mim!) sem olhar, os peões que atravessam em qualquer sitio e de qualquer maneira, os taxistas suicidas, o automobilista que atravessa duas faixas de repente e nos barra o caminho por que viu um lugar para estacionar do outro lado da avenida, os que que querem fazer corridas no semáforo, porque ficam despeitados com o facto de uma "vespa", que custa três mil euros, arrancar mais depressa que o "TDI" pelo qual se endividaram em trinta mil... Uma distracção, uma só, e não há chapa amolgada, há lesões. É preciso experiência para lidar com isso.

terça-feira, 24 de julho de 2007

La Podrerosa

Não recordo a primeira vez que a vi. Gostava de poder dizer que sim, e este texto iria por um caminho mais romanceado, enquanto eu narraria, com entusiasmo, como me lembrava perfeitamente de cada pormenor, cada ínfimo detalhe desse nosso primeiro encontro.

Mas não.

Era somente a scooter de uma amiga minha. E enquanto eu tirava a licença de motociclos, a pobre Honda SH 125 “Scoopy”, amarrada a um banco público, servia apenas para ganhar sujidade e garantir a diversão da garotada do bairro. A proprietária tinha agora o local de trabalho demasiado longe para a viagem diária numa 125cc, e procurava um novo destino para a fiel montada. E assim, por um preço de amigo, a Honda mudou de mãos e tornou-se “La Podrerosa”. Este título ganhou-o da Marta, a minha namorada, e está relacionado com o facto de a mota exibir marcas de algumas quedas e a popularidade que tinha na altura entre nós o filme de Walter Salles.

Para os mais técnicos, a SH 125 é uma scooter automática de rodas altas (16 polegadas à frente e atrás) movida por um motor de 125 cc, refrigerado por líquido.

É um modelo algo desconhecido no nosso país, onde quase tudo o que tem duas rodas já de si é uma raridade, mas em Itália e Espanha, por exemplo, a Scoopy está a substituir as velhas e saudosas vespas como o modelo mais popular de scooter. Mais informação e características técnicas aqui, e aqui. (Em Italiano e Francês)

Os primórdios

Já entrado nos trintas, deu-me para isto.

Seria uma precoce crise de meia idade? Uma moda passageira? Uma tentativa não muito longe do desespero de reviver aventuras nunca conseguidas numa idealizada adolescência? Um problema hormonal? Ou talvez fosse só o reflexo de um inconformismo militante, quando não irritante, de fazer diferente, de ser pouco convencional: “se todos andam de carro, eu não ando!”. Estas e outras interrogações (ou mais provavelmente nenhuma em absoluto) afligia a mente sofisticada dos meus amigos e conhecidos nesse final de verão de 2006. Estava a tirar a carta de moto, depois de uma década como titular de uma licença da nossa República que me autorizava a pilotar coisas de quatro rodas. Por quê? Enfim, porque sim. Sempre o tinha querido fazer, e por uma razão ou outra tinha adiado os planos. De repente, a morar no centro de Lisboa e com algum tempo livre, a ideia de tirar a licença e comprar uma scooter parecia fazer todo o sentido...