terça-feira, 27 de abril de 2010

Fura-greve


O anunciando caos provocado pela greve dos transportes públicos acabou por se revelar mais uma situação de "business as usual", pelo menos aqui para os meus lados. A Indiana foi chamada a substituir a CP, na ligação Oeiras-Algés: a Marta podia apanhar um autocarro de uma empresa que não fazia greve, se conseguisse chegar a Algés. Carregada com portátil e pendura, a Indiana não é a mais cómoda das "armas" contra o congestionamento, mas cumpriu a sua função, pelo segundo dia consecutivo.

O trânsito era o mesmo de sempre. Ouvi muitas reclamações na televisão, mas pelo menos na marginal o caos era somente o habitual. Faz sentido, a maioria das pessoas vai de carro para o trabalho de qualquer maneira. O que não deixa de irritar um bocadinho, é a imprensa nunca mencionar as duas rodas (motorizadas ou não) como alternativa: se não há transportes públicos, as pessoas vão de carro, pois claro. No carro que está acima das suas possibilidades, mas que mesmo assim compraram, no carro que devora combustível que mal conseguem pagar, no carro que conduzem alienados, como se estivem sentados sozinhos no sofá, a usar o comando da televisão.

Greve dos transportes? Qual greve?

terça-feira, 20 de abril de 2010

Uma Honda diferente

Isto é apenas um "supónhamos", como diria o Toni.

E vamos supor que tinham uma fixação por scooters de tipo clássico, com mudanças de punho. Vamos supor também, que não eram grandes admiradores de scooters italianas, muito lindas, mas algo temperamentais e pouco fiáveis, (muito fiáveis, desde que andemos sempre com umas quantas peças e uma mala de ferramentas atrás.)

Que alternativas existem? A fantástica Heinkel, cujos modelos mais recentes saíram da fábrica em meados dos anos 60? A Bajaj Chetak, que no fundo não é mais que a evolução técnica de uma Vespa Sprint num corpo bem menos elegante? E a LML, claro, mas por mais que os coleccionadores pé-de-chinelo não queiram aceitar, no fundo é mesmo uma Vespa, com precisamente as mesmas qualidades e defeitos.


E então que sobra? Que tal uma scooter do maior fabricante mundial, a reputada e super fiável Honda? Sim, a Honda fabricava até há bem pouco tempo uma scooter de mudanças manuais, roda de 10 polegadas e motor 150 a 4 tempos. Infelizmente só para o mercado indiano... Vejam esta review de um utilizador de um modelo com "escassos" 58.000 km. Pode não ser muito bonita, mas o resto está (quase) tudo lá!

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Do preço dos combustiveis e outras realidades


Segundo os meus registos, o preço da gasolina aumentou cerca de 13% no tempo de vida da Indiana, cerca de 6 meses. Como a inflação no mesmo período deve ter sido de cerca de 1% , e não tendo havido nem escassez de oferta nem aumento da procura de combustíveis, os actuais preços praticados são para mim um perfeito mistério.

Para o Português médio isto é uma grande injustiça.

Para mim não.

O Português médio vai para todo o lado de automóvel e como tal considera direitos básicos, senão mesmo divinos, o acesso a combustíveis baratos, impostos de circulação reduzidos e lugares de estacionamentos gratuitos. (Na falta destes, acha-se no direito de estacionar em qualquer lado). É extraordinário o consenso que existe na sociedade portuguesa sobre estes assuntos, um consenso que transformou as nossas cidades em auto-estradas, as nossas praças e jardins em parques de estacionamento e os nossos idosos, crianças e deficientes em reféns nas suas próprias casas, cercados pelos omnipresentes pópós que tudo ocupam. Nem os turistas conseguem tirar uma foto decente aos nossos monumentos, cercados que estão sempre por automóveis (mal) estacionados.

O Português médio ri-se quando ouve dizer que uma boa percentagem das deslocações de um Dinamarquês ou Holandês são feitas de bicicleta, que o acesso ao centro de Londres se paga, que no Japão o estacionamento gratuito simplesmente não existe e que só pode ter carro quem prove ter também garagem. Fica chocado se lhe dizem que nos Estados Unidos conduzir embriagado dá prisão efectiva, que em Singapura um acidente com um ciclista ou um peão é sempre culpa do automobilista, independentemente das circunstâncias.

O Português médio sai atrasado de casa e depois tenta ganhar tempo fazendo loucuras na estrada, vai almoçar a quilómetros do trabalho (porque merece) e no regresso faz mais um slalom a velocidades vertiginosas, porque está atrasado para a reunião. O Português médio, por mais que os preços subam, nunca deixa o carro em casa nem anda mais devagar para poupar combustível. Quando alguém diz que veio devagar na Auto Estrada, quer dizer que veio a 140 km/h! O Português médio atropela 17 pessoas por dia, mas raramente assume a sua culpa. O Português médio parece uma pessoa normal, um ser inteligente, até que o vês a conduzir.

Não tenho já muita paciência para o Português médio. A maior parte das vezes as pessoas só mudam se a tal forem obrigadas. Como o estado parece que se demitiu do seu papel de fiscalizador, a esperança recai agora sobre os aumentos dos combustíveis. Talvez eles tirem finalmente gente da estrada e ajudem a modificar os nossos insustentáveis paradigmas de mobilidade. Não se iludam, as mudanças vão acontecer, mais tarde ou mais cedo. A bem ou a mal.