segunda-feira, 27 de agosto de 2007

500 km de Scoopy (1ª parte)

(O que se segue teve lugar durante o verão deste ano, em alguma altura antes da presente data.)


Decidimos que iríamos passar um fim de semana prolongado, a Marta e eu, na zona da barragem de castelo de Bode, e que a viagem seria feita de Scoopy, deixando o carro na garagem. Com esta ideia de viajar de scooter na cabeça, a sentir um cheiro a aventura no ar, fiz menção de não descuidar alguns preparativos. Comprei lâmpadas extra, um kit para furos em pneus tubless e elásticos para segurar a carga. Comprovei os limites de carga no manual da moto, e verifiquei que podíamos contar com cerca de 18 kg de bagagem, e cerca de 180 kg de peso total máximo. Por outro lado, estávamos também limitados ao peso máximo por área, por exemplo 3 kg para a grelha porta bagagens de trás.

Com estás limitações, depois de algum debate, ficamos reduzidos ao seguinte equipamento para 4 dias:

1 Mochila de tamanho médio, com roupa para nós os dois
2 Toalhas de banho + 2 necessaire
2 Sacos-cama
2 Colchonetes
1 Tenda de 3 pessoas
1 Kit Furos + 1 Kit Lâmpadas + Rede + Elásticos + Lanterna
1 Tool Victorinox
1 Câmara fotográfica (compacta)
1 Rádio
1 Garrafa de água

A estes elementos há que acrescentar as carteiras, telemóveis, os nossos blusões, luvas e, naturalmente, capacetes.

Chega a data da partida, e estávamos os dois algo cansados e resolvemos atrasar um pouco a hora da largada. Tardamos também depois em conseguir uma configuração satisfatória para a carga. Por fim fizémo-nos à estrada. A primeira paragem teve lugar a 500 metros da partida, para encher o depósito e comprovar a pressão dos pneus. Eram perto das 11:00 da manhã quando fomos surpreendidos pelo trânsito de Alverca, onde, apesar de carregada até ao seu peso limite, a Scoopy fez gala da sua condição de scooter e pudemos serpentear habilmente pelo trânsito imobilizado, até à liberdade. Já em Vila Franca de Xira, avisei a Marta que a travessia da recta do Cabo seria possivelmente penosa. Eu estava certo, mas na verdade nem eu próprio sabia quanto...

A travessia da ponte de Vila Franca decorreu sem incidentes, mas logo a seguir, na recta, começou a dança habitual das ultrapassagens. Os ligeiros ultrapassavam-nos como se não estivéssemos ali, sem chegarem a sair da faixa, passando a centímetros dos retrovisores. Isto era especialmente perigoso por causa do vento que se fazia sentir e que obrigava a Scoopy a oscilar de um lado para o outro. Toda a carga que trazíamos funcionava como uma vela e era muito difícil manter a scooter no rumo certo. A Marta e eu agachavamo-nos como podíamos, mas isso não parecia ser suficiente. No sentido contrário passavam camiões, continuamente, e de cada vez que nos cruzávamos a pobre scoopy dançava ainda mais, a direcção ficava leve e vaga e as rodas pareciam querer sair do chão. Cada passagem parecia pronunciar despiste iminente. Era necessária toda a concentração e muita força só para manter a scooter no asfalto. O meu capacete quase foi arrancado em algumas destas passagens, e eu perguntava a mim próprio que estaria a Marta a pensar.

A nossa velocidade rondava os 70-80 km hora. A Scoopy talvez conseguisse mais, mas eu não me atrevia a rodar mais o punho com aquele vento. Pensei em abrandar, mas a visão intimidante da grelha de um camião, que ocupava por inteiro os meus espelhos e rugia atrás de nós, aconselhava-me a manter a velocidade. Esse camião falhou várias tentativas de ultrapassagem e era conduzido de forma impulsiva, dançando cada vez mais nos meus espelhos. Ponderei seguir pela berma, mas esta estava em tão mau estado que descartei rapidamente essa ideia como sendo um perigo ainda maior. De qualquer maneira, eu tinha o direito de ali circular, e a velocidade máxima permitida na maior parte do percurso da recta é precisamente 80 km/h...



Depois do que nos pareceram muitos minutos de pesadelo, conseguimos chegar a Samora Correia e a partir daqui a intensidade do trânsito diminuiu. No entanto, o percurso ainda nos reservava surpresas. À entrada de Benavente fui atingido na boca por algum bicho. A dor horrorosa obrigou-me a parar e por instantes eu não conseguia dizer palavra. A Marta felizmente percebera o que tinha acontecido e que ela descreveu como “mexeste a cabeça para trás, parecia que tinhas sido baleado”. A dor no lábio era intensa, mas não havia ferimentos visíveis, pelo que nos limitamos a trocar de capacete (o da Marta era um Jet com viseira, o meu era um Jet pequeno, com viseira “simbólica”) e seguimos caminho.

Prosseguimos viagem até Almeirim, onde aconchegámos o estômago com as delicias regionais locais (Sopa da Pedra, por exemplo) e eu coloquei gelo no meu lábio, que nesta altura me dava um certo ar de Savimbi.


O resto do percurso foi feito tranquilamente, sem pressas e apreciando a paisagem. Parámos para recobrar o fôlego num miradouro com uma vista deslumbrante para o castelo da Almurol e depois fomos evitando as autoestradas e vias rápidas. Chegámos a Constância com muito tempo para localizar o parque de campismo. Fizemos a estrada de ali até à barragem de Castelo de Bode perfeitamente maravilhados com a beleza do cenário. A estrada depois serpenteava pelos montes, subindo e descendo, obrigando a muito empenho na condução. Por fim localizámos o parque, que estava a concluir obras e praticamente deserto.

(To be continued...)

domingo, 26 de agosto de 2007

Fenómeno Sazonal?

Ando realmente surpreendido com o número de scooters e motos que tenho encontrado nas ruas de Lisboa, nos meses mais recentes. Bem sei que com a chegada do bom tempo, há sempre uma série de "motocas" que sacodem o pó das suas máquinas e vêm para a rua, de chinelinho no pé, sacar cavalos, passar vermelhos e soltar rateres. Ou seja, dar mau nome aos utilizadores sérios e regulares das duas rodas. Mas mesmo excluindo este acontecimento sazonal, um fenómeno já conhecido, dou por mim a cruzar-me com muitas mais motos e scooters que aquilo que estou habituado. Há por exemplo um número muito apreciável de Vespas. Será uma moda? Será o principio de algo? Será que estamos finalmente no bom caminho?

A Scoopy do Cretáceo Superior

É difícil reconstruir o percurso das scooters Honda que receberam o cognome "Scoopy". Principalmente porque essa é uma designação comercial, e não foi utilizada em todos os países por igual, por opções de estratégia de marketing ou talvez porque a palavra soava como um palavrão em algumas línguas (como o Fiat UNO em Finlandês ou o Mitsubishi Pajero em Castelhano). Até agora não consegui escrever a "história" do modelo, mas sei que muito antes de se tornar a rainha de vendas em Itália, na versão 125-150, existiram diversos modelos de roda alta, com 50cc e mais, que levavam o nome de "Scoopy".

Por isso, não fiquei muito espantado quando encontrei este exemplar numa conhecida praia em Portugal. Está bem usado, mas parece (e estava) perfeitamente funcional. Digno de se chamar clássico talvez?..

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Sobram peças!

A verdade é que tenho demasiado tempo livre.

Como os senhores da Santomar não me arranjaram a mota como eu queria, resolvi tratar eu mesmo de resolver o problema da indesejada sinfonia dos plásticos. Eu tinha motivação, eu tinha ferramentas, eu tinha a vantagem de cobrar pouco a mim próprio pela mão de obra. Eu não fazia era ideia de como começar...


Não levei muito tempo a decidir que o painel todo do guiador tinha que sair. Mas para o libertar, tive que tirar também o de baixo... À volta do guiador há um emaranhado de cabos e fios, não sobra muito espaço. Depois de desligar as fichas, não foi difícil perceber o que se passava: além dos 4 parafusos, tudo aquilo é mantido no sítio por uma série de encaixes de plástico, daqueles que dão um estalido... Depois de 20.000 km de ruas esburacadas, e recentemente, muito empedrado, é claro qua alguns dos contactos estavam partidos. Havia folgas impossíveis de arranjar, só trocando a peça toda. Curiosamente, tudo o que era mecânico parecia em muito bom estado, as peças da Honda inspiram confiança. Mas e os plásticos, que fazer? A sinfonia diária andava a dar-me cabo do juízo.


Bom, como não me apetecia desistir, estive a reforçar com fita adesiva (serve para tudo!) o interior da caixa do farol, nos sítios que entravam em contacto com o outro lado (do guiador). Usei também esponja autocolante que se usa para evitar que portas e armários batam onde não devem. Para finalizar, "amarrei" quase literalmente a parte de plástico a uma zona metálica do guiador, através de dois pares de furos que existem debaixo da caixa do farol não sei muito bem para que propósito...



E pronto. Parece (e é!) um trabalho muito amador, mas a verdade é que consegui (duas horas e meia depois) voltar a pôr tudo no sítio, certifiquei-me que as luzes e comandos funcionavam e, tcham tcham: nada de ruídos parasitas! Um silêncio divino para os meus ouvidos!



Infelizmente este trabalho deixou-me também com a ideia de que as scooters, todas elas, estavam condenadas a falecimentos precoces, provocados não pelo inevitável desgaste mecânico, ou pelo normal decorrer de milhares e milhares de quilómetros, mas pela destruição prematura das suas dispendiosas carapaças de plástico. Para dormir descansado, prefiro pensar que não é bem assim, que a minha pobre montada já caiu várias vezes (só uma comigo) e já tem uns aninhos. A minha mãe sempre me disse que é feio generalizar dessa forma.

De pequenino...

... se parte o focinho. Pelo menos é por esse caminho que as coisas vão. Não estão a perceber, eu sei. O tema é: "Escolas de condução". A Marta (a minha better half) está a tirar a carta de motociclos, precisamente um ano depois de mim. No caso dela é aqui. Amanhã tem a primeira aula de condução, e disse ao instrutor que tinha um casaco próprio para motociclismo (parecido com o meu Bering) e que iria trazê-lo. A resposta do Sr. Instrutor foi dizer-lhe qualquer coisa no sentido que isso não faziam falta nenhuma, porque está muito calor e além disso a aula era com ele e portanto tudo ia correr bem... A Marta logo lhe deu a entender que levava o casaco na mesma e ainda teve de ouvir que ela era "daquelas que preferem apanhar com o calor a ficar com uns arranhões"

Mas que mentalidade marialva é esta? Não devia ser o instrutor o primeiro a incutir hábitos de segurança? A informar sobre o material de protecção necessário, para além do obrigatório? Se não há esta consciência nem nas escolas de condução, há onde? Nos motoclubes? Assim não vamos lá.

domingo, 19 de agosto de 2007

Sintra ride

Que fazer num feriado a meio da semana? Estava calor, mas não o suficiente para a praia. Era demasiado tarde quando saímos da cama para grandes programas, e estávamos muito molengas para fazer desporto. A solução? Um passeio de scooter até Sintra!



Ok, o vídeo não tem som e foi filmado por uma Olympus que já está a pedir reforma, mas não resisti a incluir este pedaço de história cinematográfica.

Pelo caminho apanhámos bastante trânsito, parece que muita gente tinha tido a mesma ideia que nós e a volta só se tornou agradável quando deixámos a confusão das estradas principais (a Marginal ou N6, estrada do Guincho, etc) e entrámos nos recônditos caminhos da Serra. Antes houve ainda tempo para umas brincadeiras, como as fotos seguintes, feitas pela Marta:



Sim, sou eu! Algures depois da Malveira da Serra. Pareço maior do que pensava em cima da pobre Scoopy... Estes momentos "kodak" foram muito divertidos, por alguns instantes parecia um ensaio da Motociclismo. Mas o nosso destino era Sintra, e só voltámos a parar quando nos vimos rodeados de paisagens como esta:


Enfim livres! De poluição, de enlatados e confusões. Infelizmente livres do calor também, porque o famoso microclima da zona de Sintra fez-se sentir de imediato e a temperatura baixou uns dez graus ou assim... Não fazia mal, enquanto eu me entretinha com a fotografia, a Marta desapareceu por uns instantes, para voltar a surgir com uma mão cheia de amoras silvestres. Para minha surpresa, estavam realmente deliciosas!

Rumámos a um pequeno miradouro e depois à zona dos Capuchos. Havia pouca gente por ali, pessoal do BTT e alguns turistas. Aquela tranquilidade a que a zona nos habituou mantinha-se e ainda bem. Mas quando começámos a descer para a vila de Sintra, o cenário mudou. Enlatados a subirem pela estrada impetuosamente, a maioria deles a fazer as curvas descaradamente fora de mão, porque vinham demasiado depressa, pessoas por todo o lado, muitos turistas, o caos habitual com o estacionamento, filas por todo o lado... Por momentos estivemos para desistir do planeado lanche na vila, mas tudo acabou por se compôr. A Scoopy ultrapassou os engarrafamentos com a elegância habitual e acabámos a repôr energias num cafézinho no centro. Sintra retém o seu encanto.


Pronto, não resisti a mais um clipzito...

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Tempo de revisão


Ando a pensar trocar a scoopy. A sério. Começa a parecer pequena, quero uma coisa que permita escapadelas extra-urbanas de fim de semana, sem tanto risco como sucede agora. Mas apesar destas ideias, que a realidade da carteira vai arrefecendo, chegou a hora de mais uma revisão. Com 19,944 km no marcador, a Honda lá recolheu às origens, à Santomar. Infelizmente o serviço deixou a desejar, além de ser caro, como costumeiramente. Sim, 135.32 Euro por mudar o óleo e o líquido de refrigeração e dar uma afinação nos travões parece-me MUITO caro. A somar a isso, pela segunda vez ignoraram completamente as minhas anotações sobre os barulhos no guiador (um dos inconvenientes de uma moderna scooter de "plástico"). Depois do trabalho que dá conseguir lá marcação, aquilo mais parece um restaurante da moda... Não penso lá voltar, e quando chegar a hora de trocar de scooter também não ponho lá os pés. Duvido que dêem pela minha falta, afinal o problema da Santomar é igual ao de muitos outros em Portugal: são vítimas do próprio sucesso. Têm demasiadas vendas para o serviço de assistência que têm montado, mas é normal, o importante é vender, o resto logo se vê...

Como saldo de um dia sem scooter, ficam também muitos minutos perdidos à espera de transporte público (e tive boleia também, senão...), várias caminhadas a pé (dessas não desgosto) e um gasto total de 3.95 Euro em metro e autocarro. Hum, isso dava para uma semana de gasolina para a scooter, se eu não saísse de Lisboa. Bem, parece que não preciso de rever as minhas escolhas!

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

O INEM de Scooter

Foto: INEM

Já tinha visto as motos a circular por Lisboa. Normalmente são motos de trail, como o caso da foto, ou ocasionalmente sooters, como uma Honda Jazz que já encontrei várias vezes. A scooter japonesa parece-me particularmente adaptada a este trabalho em cidade, é muito manobrável e tem uma imensa capacidade de carga. Estes meios oferecem vantagens óbvias na rapidez da prestação de cuidados urgentes, mas são ainda uma novidade, um projecto experimental.

Hoje tive oportunidade de ver uma destas unidades em acção, mesmo aqui perto de casa. Um indivíduo estava deitado no chão, aparentemente embriagado, mas poderia ser algo mais grave. A unidade de socorro que chegou ao local era constituída por um elemento do INEM, montado numa Yamaha XT 600 com muito bom aspecto. Sem dúvida que estes meios, além da utilidade para o desempenho das suas funções, aumentam a visibilidade dos veículos de duas rodas, perante o público em geral. Pode ser que ajudem a acabar com alguns preconceitos que ainda subsistem por cá contra as scooters, motas e os seus utilizadores.


Para mais informação dêem uma olhada neste artigo do Destak ou neste texto do próprio INEM.

domingo, 12 de agosto de 2007

Armadura nova

Sejamos claros, as scooters não têm qualquer tipo de segurança passiva. Não é pela posição de condução, a existência de um escudo para as pernas ou mesmo de uma terceira roda (no caso da Piaggio MP3) que estamos mais seguros em caso de acidente. Se formos contra o chão, uma parede ou um automóvel, vamos quase de certeza ter lesões. O Papel da nossa indumentária é justamente proteger-nos o mais possível desses impactos. E também, claro, da chuva, do vento, dos insectos, de pequenas pedras projectadas, do sol, etc. Nem a roupa nem o capacete nos vão salvar a vida se formos a 120 km/h contra uma parede, mas só o facto de, por exemplo, vestir umas calças de ganga em vez de uns calções de praia, pode ser a diferença entre um susto e uma cicatriz para o resto da vida, se cair numa rotunda com óleo, mesmo à saída de casa...

Eu admito que tenho sido um pouco relaxado com a segurança, como circulo normalmente só em cidade, acho suficiente a combinação habitual de capacete jet (pequeno...), calças de ganga e um blusão de pele sem protecções. Depois de uma viagem maior, de que ainda falarei um dia destes, fiquei com outro apreço pelo equipamento de protecção: tenho agora um capacete modular para deslocações maiores e finalmente comprei esta semana a peça mais importante, um bom blusão:
Infelizmente, no cinzento mercado português, não existe equipamento apropriado exclusivamente para scooters, como noutros países, e temos que nos contentar com material de motociclismo. Nada contra em termos de protecção, infelizmente os modelos, desenhos e as cores disponíveis por cá deixam algo a desejar, para quem conhece a gama, por exemplo, destes senhores.

Mas voltemos ao meu blusão Bering: infelizmente é todo preto, mas tem linhas brancas reflectoras, nos braços e nas costas, protecções nos ombros, cotovelos e costas e um forro de inverno extraível. O material sintético não parece tão resistente como a pele, não tem tão bom aspecto e parece, pelo que tenho visto, que não vai ficando mais bonito com o tempo, pelo contrário. Ainda me estou a acostumar a ele, mas é confortável e pode vir a ser muito útil, embora eu espere reformá-lo daqui a uns anos sem nenhum estrago. Era bom sinal.

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Ataque do justiceiro enlatado




Situação recorrente: via com dois sentidos, uma só faixa para cada sentido, longa fila de trânsito à minha frente, automóveis parados por causa de um semáforo. A outra faixa está livre, ultrapasso a vinte ou trinta km/h até chegar ao semáforo ou retomo a minha faixa se vier algum veículo em sentido contrário.

Até aqui tudo bem, nada disto é incorrecto ou ilegal, a menos que exista um traço contínuo ou outra situação mais específica. O que sucede é que por vezes o automobilista que fica imediatamente atrás de mim quando retomo a minha mão parece ficar enraivecido, não sei se por estar farto de esperar numa fila, dentro de um veículo chato, fechado, caro e poluidor ou se algum "Motard" lhe terá roubado a namorada nos tempos da escola. O certo é que muitas vezes sou brindado com arranques furiosos, apertões e comportamentos irresponsáveis de todo o tipo. Poder-se-ia pensar que esses tempos do total desrespeito pelas duas rodas já lá iam, mas temo que não seja assim.

Ainda há poucos dias, em Linda-a-Velha, um sujeito bem vestido, com um fato clarinho de verão, dentro de um Toyota Yaris, depois de eu ter efectuado uma ultrapassagem como a que descrevo acima, resolveu dar largas às suas (muitas) frustrações e começou a tentar colocar-se a meu lado para me empurrar para a faixa contrária. Fui surpreendido pela manobra, até porque tinha tido o cuidado de retomar a minha faixa suavemente, para não "assustar" ninguém, deixando muito espaço entre mim e o tal Yaris. Mas este fulano tinha a sua própria agenda a cumprir e toca de atirar o carro para cima de mim, com acelerações ruidosas e travagens in extremis . O Yaris balançava de um lado para o outro nos meus retrovisores, enquanto eu tentava manter o meu lugar na faixa e ao mesmo tempo não ser atingido por aquele vingador enlatado. Arrisquei travar um pouco, na esperança que ele não fosse louco o suficiente para me bater por detrás. Assim foi, e quando o motor do Toyota perdeu rotação, eu rodei o punho e consegui colocar uma distância razoável entre nós, sendo que no cruzamento a seguir eu fui por um caminho e o Sr. vítima de road rage seguiu por outro. Só quando tudo isto já tinha passado é que fui tomado de uma grande fúria eu próprio, e uma vontade que controlei a custo de encontrar de novo aquele justiceiro do asfalto e mostrar-lhe a resistência e bons acabamentos das minhas luvas... Mas que se pode fazer, nesta terra sem lei, se um scooterista ou motociclista perde a cabeça é ele (ou ela!) que fica mal, em todos os sentidos. E de resto, com o que se vê por aí, eu ia andar aos murros todos os dias, várias vezes por dia!