segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Barcelona, a cidade das duas rodas

Este vosso escriba desaparecido está de volta para partilhar as emoções de uma pequena deslocação à cidade mediterrânea de Barcelona. Aos meus dois fieis leitores e ao meu gato, as minhas desculpas por tão longa ausência, mas desde cedo fui ensinado a manter-me em silêncio, se nada de relevante tivesse para partilhar. (Já sei que não é essa a tradição portuguesa...)


Eis-me pois chegado a Barcelona, vindo de uma louca deslocação Lisboa-Porto-Girona que envolveu quase todos os meios de transporte criados pelo homem. Todos menos dois, os meus preferidos, aqueles que ostensivamente agora me entravam pelos olhos adentro: a bicicleta e a scooter!


Mesmo quem nunca tenha estado em Barcelona terá já ouvido falar da sua larga tradição scooterista e motociclista e da sua mais recente paixão pela bicicleta. Tais referencias transformam-se em realidade concreta no centro da bela urbe catalã: filas de pequenos motociclos estão estacionados por todo o lado, em locais próprios, e facilmente se podem encontrar estações de ancoragem das bicicletas de serviço público, o bicing.


Há toda uma dinâmica muito especial no que toca a mobilidade na capital da comunidade autónoma da Catalunha. É tão comum ver pessoas a deslocarem-se em bicicleta como de carro, como de scooter. E todos coabitam os mesmos espaços, com a diferença que por aquelas bandas os automobilistas não praticam os abusos a que estão habituados os congéneres portugueses. Não há carros estacionados em cima dos passeios, a obstruir a passagem. Não há má vontade para com as bicicletas e menos para com as scooters, que são as verdadeiras rainhas da cidade. É normal ver senhoras de salto alto, com a sua mala pendurada da argola no escudo da scooter cruzar tranquilamente as grandes avenidas. Toda a gente anda de scooter, novos, e menos novos, homens e mulheres, de fato ou de fato macaco, em vespas clássicas ou em maxi-scooters de última geração. É um fenómeno que impressiona.


Confrontado com esta realidade, rapidamente conclui que só havia uma maneira de conhecer a cidade. Além de a pé, claro, coisa que também fiz. Não, não seria de scooter, porque as que existem de aluguer não me atraiam, eram caras e não tinha material de protecção comigo. Na verdade, só o facto de existir essa possibilidade é coisa de louvar, mas eu optei pela bicicleta. Estava fascinado com a possibilidade de largar a montada numa "estação", ir visitar alguma coisa a pé e depois apanhar outra bicla para o regresso noutro ponto da cidade. Infelizmente, a bicing é só para utilizadores registados, o que faz sentido, mas invalida o seu uso por turistas. Optei então por uma bicicleta de aluguer, uma pasteleira holandesa contratada a um senhor que me pareceu também holandês, não muito longe da Plaça de Catalunya.


Nesta maravilha de 20kg e três velocidades (na verdade, e durante a maior parte do tempo, duas!) percorri com a Marta a maior parte das zonas de interesse turístico da cidade: andamos pelo porto, subimos a Montjuic ver a vista e conhecer a zona olímpica, descemos para a Praça de Espanha, perdemo-nos pelo centro e rumamos ao Parque Guell. Esta deslocação foi particularmente aventureira uma vez que tão a norte já não há ciclovias nem vias cicláveis, e o desnível do terreno é assinalável. No entanto, não registamos nenhum comportamento agressivo e não apanhamos nenhum susto em todo o percurso.


A pequena câmara digital que levávamos ficou sem bateria numa altura chave, mesmo assim deu para registar uns bonecos das scooters de Barcelona, uma cidade que sabe o que faz em matéria de mobilidade.




Se a scooter é rainha em Barcelona, a rainha das scooters da cidade é a Honda Scoopy. Desde as já ancestrais Scoopys 50 e 100 até à predominante 125/150 e a nova 300, as scooters da Honda são a principal forma de transporte motorizado de Barcelona. E se estes modelos de roda alta são um inegável sucesso de vendas, outros modelos Honda parecem também merecer a preferência dos nativos.



Os responsáveis autárquicos lisboetas não perdiam nada em estudar o exemplo de Barcelona. Infelizmente, a comparação entre as duas cidades, no que toca a mobilidade, faz Lisboa parecer um burgo saído da idade média.