segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Going Old School


Ali está ela. No lugar da garagem onde costuma pernoitar a CN encontro esta manhã uma pequena scooter azul. Tem rodas de dez polegadas, chapa verdadeira e um desenho clássico e intemporal. É uma Vespa PX 150, emprestada por um companheiro do ScooterPT (obrigado mais uma vez Pedro! ) e é minha por um dia.



Isto começou com a minha visita à Original Vespa e o meu entusiasmo ao ver ao vivo as pequenas "PX" indianas. Cada vez mais interessado, comecei a ponderar a compra de um destes pequenos dinossauros de duas rodas. As implicações desta aquisição seriam no entanto monumentais. Por muitas e variadas razões, só posso ter uma scooter. A compra de uma LML Star implicaria a venda da CN. Faria sentido trocar um futurista sofá com rodas, de 2,2 metros de comprimento, por aquilo que é uma versão do Subcontinente de uma scooter dos anos 70, com pouco mais de metro e setenta de comprimento total? Trocar um motor 250cc a 4 tempos e refrigeração líquida por um fumarento 150cc (mal) refrigerado a ar? Abdicar do espaço para as pernas, para a bagagem e mesmo para o pendura? Trocar suavidade por vibrações?


Para clarificar a minha posição impunha-se um teste: conseguiria eu fazer a minha vida normal com uma LML? Tinha agora 24h para o descobrir.

Sim, é uma PX 150 (de 2007) e não uma LML. A vida não é perfeita e eu achei que para o efeito era basicamente a mesma coisa. A Vespa tinha pouco mais de 7,000 Km e estava praticamente nova. De notar apenas que o catalisador tinha sido removido.



Comecei a manhã com problemas em fazer a Vespa pegar, mas como já lá vão alguns anos desde a última vez que tive de "puxar o ar" para arrancar com um veículo, imagino que a culpa fosse mais minha do que dela. Assim que saí para a rua fui saudado por um vizinho curioso em saber se se tratava de uma "daquelas novas vespas indianas". Apesar de absolutamente pouco convencional, a minha CN nunca tinha sido objecto de conversa dos vizinhos... Rapidamente me habituei aos olhares interessados das pessoas, acenos de outros scooteristas e perguntas dos colegas. A Vespa não é para quem quer passar despercebido.


Em estrada aberta, na marginal, a caminho do trabalho, sinto-me mais vulnerável e inevitavelmente mais lento. A posição de condução é muito diferente, mas já estava à espera disso e não me senti desconfortável. O pior era mesmo vento que se fazia sentir e a minha escassa habituação ao histórico modelo impediu-me de ir além dos ~70km/h. Mesmo assim, o motor respondia bem e é de assinalar o bom nível de conforto. As suspensões surpreenderam-me pela positiva (se calhar também tinha expectativas muito baixas). Os pequenos pneus também me pareceram oferecer uma boa aderência e não comprometeram em nenhuma situação. E não, não se trata dos Continental Zippy 1, mas de uns Michelins S83 de aspecto algo mais clássico.


A condução de qualquer veículo de duas rodas exige bastante concentração, mas esta PX obriga a redobrar o nível de alerta. Não é só pelo uso do selector de mudanças no punho, que requereu alguma natural habituação, mas a própria condução exige um exercício constante de antecipação. Em que mudança devo entrar na curva? Em que altura devo reduzir? Conseguirei fazer esta subida em 4ª? Atenção permanente não evitou algumas descargas de adrenalina, como quando me enganei na mudança a engrenar numa subida, reduzi demais e quase saquei um belo "cavalo"... Por estas razões, o posicionamento correcto do corpo é também mais importante do que numa scooter mais volumosa.


Depois do trabalho, que acabou cedo, tive tempo para mais uns quilómetros de estrada, uma ida ao supermercado e alguma condução urbana. Neste último cenário não me atrevi a circular por entre carros por falta de habituação com a embraiagem, mas consegui sentir-me bastante à vontade graças ao pequeno tamanho da Vespa e a sua enorme agilidade, que permite "caber" em qualquer espaço.



Quanto aos aspectos práticos, começo por dizer que fiquei fascinado pelo porta luvas. Já conhecia a sua reputação de baú das mil e uma noites, mas ver como consegue engolir uma câmara fotográfica Reflex + um pequeno tripé + o almoço + as luvas, é bastante elucidativo do seu potencial. E o facto de poder ser trancada ou deixada aberta, permitindo um acesso rápido com a scooter a funcionar, também me agradou. É evidente que é o único espaço que existe, mas pereceu-me suficiente. Também os ganchos para capacete, colocados debaixo do assento são muito úteis para um uso de "emergência", quando não se pode levar o capacete na mão. O gancho para sacos funciona bem e prova que este é um modelo prático e utilitário e não só um bonito bibelou com rodas.


Outro aspecto importante teve no entanto nota negativa: o transporte de passageiro. Só com insistência convenci a namorada a subir à Vespa. É que entre o meu tamanho XL e o banco corsa que este exemplar tinha instalado, não sobrava espaço para ela. Ainda tenho que rever a situação com um banco convencional, mas já percebi que a PX ou LML, nas minhas mãos, só permite boleias de recurso.

A PX provou que não é só bonita. É prática e fácil de utilizar, depois de um período de adaptação. É um modelo resistente que alombou com a minha carcaça sobre-nutrida sem problemas ou queixumes. Tem uma boa capacidade de carga, nem que seja recorrendo as grelhas porta-bagagens que existem em abundância, tanto para a traseira como para a frente. O uso da caixa de velocidades (ver aqui um vídeo elucidativo, cortesia do blogue Scooting Old Skool) é muito divertido e até viciante. A scooter é algo lenta, mas a travagem convence, o conforto é suficiente e o modelo transborda personalidade.



Do reverso da medalha, os comandos são algo duros, as manetes são enormes e não demasiado ergonómicas, e a altura do banco não é das mais baixas. Quando se mete um pisca com o motor em baixa rotação, as luzes quase se apagam e isto é se conseguirem dar com o botão, porque este muda de sítio consoante a mudança engrenada. A buzina é impossível de utilizar em andamento, pois é accionada por um pequeno botão ao lado do punho do acelerador e o espelho é igualmente inútil, porque as vibrações rapidamente se encarregam de o desregular.

Apesar disto, a Vespa seduz não só quem a olha, mas também quem a conduz. Não é em nenhum aspecto melhor que a CN, mas tem os seus atractivos. Ainda estou a tentar perceber até que ponto são irresistíveis...

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Amarelo ocre para todos!

Dizem as más línguas que tudo se deve à proximidade das eleições. Em Lisboa, de repente, do nada, começaram a surgir jardins arranjados, zonas pedonais, belas ciclovias, e até, pasme-se, estacionamentos para motociclos! Para sermos justos, há que dizer que estes lugares de parqueamento exclusivos para motos (e scooters!) já existiam, mas com frequência estavam mal sinalizados, e eram impunemente ocupados por automóveis, caixotes do lixo e contentores de reciclagem. Hoje existem vários espaços perfeitamente delimitados e sinalizados, principalmente pelo pavimento pintado de amarelo ocre.

Talvez por durante anos serem tratados como marginais, os scooteristas e motociclistas lisboetas habituaram-se a arrumar a montada à sua maneira, normalmente bem perto do destino final (literalmente à porta!). Talvez por isso nas minhas deambulações pela capital nestes dias de verão tenha encontrado as scooters e motos nos seus lugares de sempre, em cima do passeio, e estes novos e vistosos lugares... vazios. Espero que a situação se inverta rapidamente, por uma vez a CML parece estar no rumo certo, e merecia que pelo menos fizéssemos uso daquilo que puseram à nossa disposição. Não?

Até à poucas semanas era assim:


Agora é assim.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

No calor do verão


Uma rápida pesquisa às estatísticas do site deste vosso escriba permite retirar algumas conclusões. A primeira é que muita gente vem aqui parar por acaso, (sejam bem vindos!) depois de uma pesquisa sobre peças para scooter, aluguer de scooters, etc. Alguns outros parecem procurar informações sobre a nova lei das 125. O destaque vai no entanto, para uma notável maioria que parece procurar as mais variadas informações sobre aquela que é a última das scooters de características clássicas, com motor a dois tempos, carroçaria em metal e mudanças manuais. Falo naturalmente da LML Star Deluxe.

Se por um lado fico feliz com o interesse neste modelo tão especial, que eu próprio pondero adquirir, não posso deixar de reflectir sobre o fenómeno. Está calor, e só isso motiva muitos negócios por parte de utilizadores sazonais das duas rodas, menos experientes, mas não só. O Português é muito susceptível a modas e temo que muitos acabem por comprar uma LML em lugar de um modelo mais racional, prático e barato, de acordo com as suas necessidades, só para sentirem que também estão a cavalgar a crista da onda scooterista. Aliás, a febre da scooter clássica continua, sendo actualmente quase impossível encontrar modelos banais (Vespa Sprint, PX) por preços abaixo dos 2,000 Euros. A loucura parece ter inflacionado o preço das próprias LML, novas, que subiram recentemente cerca de 200 Euros para uns actuais 2,300 + documentos, num dos seus importadores mais conhecidos. Oferta e procura, certo? Nada a dizer, mas registei a alteração.

Satisfeito que fico em saber que a scooter clássica de mudanças manuais parece estar de momento a salvo da extinção, gostava de recordar que existem muitos outros modelos de scooters no mercado. Talvez menos carismáticos, mas mais práticos, fiáveis, baratos, económicos, confortáveis e velozes. Aqui ficam só alguns exemplos:

Honda PSi 125 (Já só em usado) e a soberba SH 125i; A incrível Honda Today; A recente Sym Fiddle II, com o seu ar clássico mas com personalidade própria. A louca Daelim B-Bone, que ainda não consegui descobrir se já se vende entre nós.

Existem ainda um sem fim de outras alternativas. Meio a brincar, meio a sério, os scooteristas mais veteranos e de gostos vintage costumam catalogar de "aspiradores" e "tuperwares" tudo o que sejam scooters automáticas e modernas. No entanto, o crescimento das 125cc, na sua maioria, não vai ser feito à conta de pessoal que quer ir a concentrações, beber muitas minis e fazer 1,000 km num fim de semana, em cima de rodas de dez polegadas, numa máquina com trinta anos de idade, cheia de autocolantes. Há lugar para todos e não gostava que alguns destes novos scooteristas regressassem à total dependência do enlatado só porque escolheram um modelo que tem porventura demasiada "personalidade" para aqueles que, tendo pouca experiência, estão no fundo à procura de um modelo utilitário, onde se possa guardar o capacete e transportar as compras.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Admirável mundo novo


Depois de muita espera, alguma ansiedade, informações contraditórias e confusas, eis que entra em vigor, à meia noite de hoje, a já famosa lei que permite a condução de motociclos de até 125 centímetros cúbicos e 11 Kw de capacidade, por portadores de carta de condução automóvel.

Esta lei tem como limitações, além da potencia mencionada (15 cavalos), a idade de 25 anos para o portador da licença B. A menos que este seja portador também de licença de ciclomotores, não necessitando nesse caso de ser maior de 25.

E qual a importância desta legislação? Quem gosta de scooters/motas sempre se deu ao trabalho de tirar a carta, mesmo que fosse para conduzir uma 125, certo? Bom, os países europeus onde esta legislação foi introduzida (derivada da directiva europeia 91/439/CE) experimentaram um enorme crescimento nas vendas de motociclos. Muitos destes novos utilizadores são automobilistas que usam as scooter e motas para pequenas deslocações urbanas. Isso não são boas noticias só para os concessionários. Estudos demonstram que o aumento de utilizadores trouxe mais respeito, maior consciência dos perigos envolvidos, mais segurança para todos, e mesmo uma descida da taxa de sinistralidade. A esperança é que o mesmo suceda em Portugal. Façam figas.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Scooter Log: o álbum

Deixei passar o aniversario do ScooterLog sem assinalar devidamente a data. Sim, sim, já ando para aqui a escrever barbaridades há dois anos, desde Junho de 2007.

Para comemorar a notável efeméride, fiquem com este espécie de "best of" fotográfico dos últimos dois anos, escolhido a dedo por entre os arquivos poeirentos do ScooterLog. Este template não terá o melhor formato, mas aqui vai: