sexta-feira, 27 de julho de 2007

O estado a que chegámos

Dizia o personagem de Salgueiro Maia no filme Capitães de Abril: "há o estado comunista, o estado capitalista e há o estado a que chegámos..." Era esse estado a que o país tinha chegado em 1974 a que ele se propunha dar um fim. Pois este é o estado a que chegou Lisboa. E não há quem lhe ponha um fim.

Não estou recenseado ainda na capital, mas se pudesse participar, não faço ideia em quem poderia ter votado nas recentes eleições. Nenhum, nenhum candidato falou de alguma coisa que me parecesse ser um projecto credível, exequível , para os problemas de fundo da cidade. Nenhum mencionou mais que um ou dois lugares comuns sobre mobilidade e qualidade de vida. Só Carmona Rodrigues, conhecido motard, falou em medidas, poucas, que podiam vir ao encontro das expectativas dos utilizadores das duas rodas. Mas Carmona já esteve dois anos à frente da câmara e nesse tempo nada fez para, por exemplo, desmontar as famigeradas bandas amarelas na rua da Junqueira (que aliás ele próprio apadrinhou), remover um metro que fosse dos carris de eléctrico desactivados, ou abrir mais corredores BUS e permitir o seu uso pelas motas e scooters. Porque havíamos de acreditar que isso iria fazer alguma coisa agora?

Dos outros candidatos... Telmo Correia, também utilizador ocasional das duas rodas, disse umas coisas simpáticas à Motociclismo (edição 195), mas todos os outros candidatos também disseram à revista o que pensavam que os seus leitores/eleitores queriam ouvir, e nenhuma dessas medidas foi divulgada em outros meios de comunicação social como sendo prioritária ou mesmo como fazendo parte do programa do/a candidato/a.

O vencedor, António Costa, ainda foi o que mesmo à Motociclismo menos disse sobre as duas rodas serem parte da solução e não do problema. Umas palavras vagas sobre "melhorar os transportes públicos" e "reforço da fiscalização do estacionamento" foi tudo o que lhe consegui ouvir sobre mobilidade urbana durante a campanha. E apoiar a implementação da directiva europeia 91/439/CEE favorecendo o uso de pequenos motociclos na cidade? Criar lugares de estacionamento para motos? (sendo que actualmente é quase ilegal estacionar um motociclo em Lisboa: ou é em cima do passeio ou se ocupa um lugar da EMEL). E a já mencionada eliminação de carris de eléctrico? E a abertura de mais corredores BUS, abertos também a motociclos? Nada. Rien. Nem vou falar em tapar os buracos, melhorar a sinalização, construir ciclovias... Utopias... Lamentavelmente prevejo portanto mais (pelo menos) dois anos do mesmo. Espero que ao menos se resolvam os problemas financeiros da autarquia, pode ser que daqui a uma década alcancemos o patamar em que os nossos vizinhos europeus se encontram, já que essa parece ser a medida do nosso atraso crónico.

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