segunda-feira, 22 de março de 2010

As origens aristocráticas


Há uns anos tirei a carta de moto e comprei a minha primeira scooter a uma amiga. Pouco tempo depois estava rendido às vantagens e vendi mesmo o carro. Tanto quanto eu sabia, este era um caminho que eu trilhava em solitário. Não tinha amigos nem conhecidos que se deslocassem em scooter, com excepção da minha amiga que tinha a Honda SH parada e se queria desfazer dela. Ninguém da minha família tinha algum tipo de relação com as duas rodas. Eu era uma espécie de pioneiro, ou isso pensava.

Recentemente, em conversas de família, tenho descoberto o quanto estava enganado.

Parece que o meu avó, que eu nunca cheguei a conhecer, era aficionado das motas e tinha mesmo várias quando morreu, suspeita-se que por lesões internas, sequelas de uma queda. Recentemente o meu tio, de idade respeitável, reclamou de lhe terem retirado a licença para conduzir motociclos. Ainda pode conduzir o seu Renault Clio, o último de uma interminável linhagem de Renaults que lhe conheci, por isso não percebi bem as razões de seu descontentamento. É claro que ninguém gosta de se ver impedido de fazer uma coisa que antes podia, mas era notório que havia ali algo mais.

Acontece que o meu tio foi em tempos o proprietário de uma glamourosa NSU Prima e tem um monte de histórias de viagens por esse Portugal fora aos comandos desta bela scooter, uma espécie de cópia da Lambretta, produzida sob licença. Ele garante que era a melhor scooter da época (finais dos anos 50, princípios dos anos 60), e que as Vespas eram "baratas" e "menos sofisticadas". Havia um clube de NSU's e as pessoas faziam muitos quilómetros para os seus encontros. A minha história preferida é de quando o meu tio ficou sem travões a descer a Av. Duarte Pacheco, a caminho do Marquês de Pombal. Perante a possibilidade de entrar na rotunda a toda a velocidade, descontrolado, preferiu atirar-se para um monte de terra de umas obras, à beira da estrada.

Enfim, afinal, não sou assim tão pioneiro entre os meus. Fico até a sentir que sou herdeiro de sangue scooterista, senão mesmo aristocrático.

1 comentários:

VCS disse...

Bessa, ao ler a tua história, por momentos pensei que estava a ler a minha. Também não conheci o meu avô, que adorava sentir a liberdade de uma duas rodas. Infelizmente morreu ainda jovem num acidente de moto, também com uma moto alemã, embora não uma NSU.

A nossa diferença é que eu desde pequeno que fui mordido pelo bicho dos motores.

Abraço!