domingo, 2 de maio de 2010

Economia


Esta foto, tal como todas as que podem encontrar no blogue, é de minha autoria. Já tem no entanto algum tempo e já foi publicada numa conhecida revista de pópós. Recorda pois que os combustíveis nunca foram considerados baratos, mesmo que achemos que AGORA é que o preço está insuportável.

O elevado custo da nhanha de dinossauro que alimenta os nossos motores, aliado à lei das 125cc e ao bom tempo que desta vez parece ter vindo para ficar, tem-se traduzido num maior avistamento de motociclos na estrada. Alguns pertencem aquela tribo que só circula no verão, aqueles do chinelo, camisola de alças e calções. Ou mesmo sem capacete, como já vi por estas bandas. Mas uma parte pertence a (des)enlatados mais esclarecidos que pretendem poupar tempo e dinheiro. São boas noticias, mas quer-me parecer que ainda há alguns mitos que permanecem em relação aos custos de ter uma "mota", mitos e dogmas que me proponho aqui esclarecer.

Quem pretende comprar uma scooter ou mota para deixar o carro em casa, deveria recordar que há uma série de despesas a ter em conta. Pensar só na diferença de consumos entre o carro e a scooter e naquilo que se poupa em estacionamento pode ser um erro.

- O seguro. Dependendo da cilindrada, companhia de seguros, historial do cliente, os preços podem ir do simpático ao exorbitante (leia-se pagar mais do que pelo pópó). Ou podem mesmo negar-lhe o seguro... Uma constante é que as scooters ou motos completamente novas serão sempre mais caras de segurar que um modelo usado ou mesmo antigo. Estranho mas real.

- As revisões. Os intervalos são curtos, dependendo dos modelos podem ser tão curtos como 3.000 ou 4.000 km. Os preços são elevados, sobretudo nos representantes oficiais das grandes marcas, podendo custar mais do que uma revisão do carro. Quanto maior for a cilindrada da scooter e mais carenagens tiver o modelo (mais material para desmontar até chegar ao que interessa = mais mão de obra), mais cara será a revisão. É claro que nisto há segmentos muito distintos, uma Yamaha YBR 125 está mesmo pensada para ter uma manutenção muito barata, o que já não é tão verdade para uma Yamaha X-Max 125, por exemplo. Naturalmente o conforto e as performances também são diferentes...

- Consumo de combustíveis. Ter uma Maxiscooter de 400cc, necessária para quem se propõe fazer muitos km de autoestrada todos os dias, com um consumo a rondar os 4 l/100km, pode parecer uma proposta tentadora. E eu acho que é. Mas se mantiverem o carro lá de casa e as despesas a ele associadas, vão ver que as poupanças não serão assim tão significativas, afinal vão ter de sustentar dois veículos. As "motas a sério" são ainda mais gulosas, sendo que a maioria devora gasolina ao ritmo de um carro diesel de média cilindrada. Os modelos realmente económicos são as scooters e motos citadinas de 125cc, com injecção de combustível (os carburadores são tão Séc. XX!). As actuais recordistas serão talvez as Honda Inova e CBF 125 que permitem fazer médias pouco acima dos 2 litros por cada 100km. Podem consultar os consumos reais de muitos modelos de scooters e motos aqui e aqui.

- Outros. Circular num motociclo exige algum equipamento de protecção, que naturalmente tem que se comprar antes de se começar a utilizar a scooter nova. O capacete, blusão e luvas são o investimento mínimo. É uma despesa que não precisa de ser significativa e será "amortizada" ao longo dos anos, mas que convém contabilizar. Se tiver um acidente quase de certeza precisará de assistência médica. Se o seu seguro não cobrir, as despesas podem ser avultadas. Por fim, convém não esquecer que os motociclos acima de 180cc pagam imposto de circulação, ver tabela.

Não pretendo desencorajar ninguém de se tornar scooterista, motociclista ou simplesmente utilizador de veículos de duas rodas, muito pelo contrario. Mas tenho constatado que há alguma confusão na cabeça de pessoas que se metem nisto para poupar dinheiro. É claro que as poupanças, grandes e pequenas, são possíveis. Mas não em todas as situações.

Pessoalmente, abdiquei do carro há muito tempo, a Indiana consome 3,3 l/100km e tem uma manutenção muito barata. Já nem sinto que estou a poupar, é só o "normal". Um pouco como quando deixei de fumar. Mas em bom.

2 comentários:

Paula disse...

Excelente texto, com o qual me identifiquei da primeira á última linha!

Eu "encostei" o carro á 2 anos, e comecei com uma cinquentinha com 17 anos, depois tirei a carta, e tenho uma scooter 200, que faz tudo, e quando digo tudo, é tudo mesmo, começando pela deslocação diária para o trabalho, passando pelas compras e terminando nas férias.

O marido foi atrás, e começou com uma 250, que trocou agora, juntamente com o carro por uma 400

Tinhamos 2 carros, um familiar e um pequeno citadino, ambos a diesel. Agora tenho 3 scooters e um pequeno citadino com 7 anos que nos últimos 2 anos 2.000 km.

Só faltou dizer que a culpada foi a filha adolescente que também tem uma cinquentinha...

VCS disse...

Bessa, concordo inteiramente como o teu ponto. É importante saber destrinçar cada caso concreto e saber fazer contas. O teu texto ajuda a esclarecer. Não admira, o teu blog sempre foi o mais pedagógico de todos.

Um abraço!