quarta-feira, 29 de julho de 2009

Live long and prosper


Este verão tem trazido algumas boas noticias para o scooterista, da capital e não só. Do estacionamento em Lisboa à aprovação da legislação das 125, motivos não parecem faltar para que, finalmente, algumas pessoas se entusiasmem a dar o salto para as duas rodas. O aumento do numero de utilizadores trará inegáveis benefícios (inclusive de segurança) para todos, ao criar mais visibilidade para esta nossa minoria, tantas vezes desprezada pelo legislador e pelos outros utentes da via.

As marcas já redobraram esforços na publicidade, sobretudo aos seus modelos de 125 centímetros cúbicos de cilindrada, esperando conseguir em Portugal o espectacular aumento de vendas que legislação similar produziu noutros países europeus. Isto numa altura em que a lei ainda nem foi promulgada. Mas não há nada de errado com isso, é importante que a mensagem passe. Temo no entanto pelo futuro destes novos condutores. Se tirando a carta uma pessoa sente que é literalmente atirada aos lobos, sem ter formação prática nenhuma os riscos serão ainda maiores.

O meu actual percurso diário casa-trabalho e trabalho-casa não soma mais de uma vintena de quilómetros, a maior parte deles por zonas de boas estradas, bem sinalizadas e com limites de velocidade entre os 70 e os 40 km/h. Mesmo assim, a quantidade de asneiras que observo diariamente é tremenda, com tendência para aumentar com o maior volume de tráfego que a zona da linha tem de suportar nesta época do ano. Excesso de velocidade, manobras perigosas, desrespeito pela sinalização vertical e luminosa, circulação em sentido proibido, o A-B-C do automobilista português está demasiado presente no meu dia-a-dia. Naturalmente, as consequências também: não houve dia desta semana em que eu não presenciasse pelo menos um acidente, ou as suas sequelas.

No meio dos vidros partidos, da chapa amolgada, dos animais atropelados e deixados à sua sorte, recordo sobretudo um acidente há dois dias, envolvendo uma mota. No caos, na azafama dos condutores a tentarem contornar mais este empecilho que os fazia perder uns segundos na sua corrida até ao semáforo seguinte, apercebi-me de que se tratava de uma pequena GN 250 ou a semelhante CM 125. Uma mota de instrução. Não muito longe do motociclo deitado por terra, estavam imobilizados um carro de uma escola de condução, e um outro veiculo. O instrutor, fora da viatura, fazia nervoso uso do telemóvel, enquanto não muito longe, a sua aluna, sentada no asfalto, ainda com o capacete colocado, era confortada por alguém.

Conseguem imaginar o desanimo desta jovem, deitada ao chão na própria aula de condução? Não faço ideia das lesões, mas ela parecia bastante queixosa. Estatisticamente a imensa maioria destas colisões tem consequências físicas. Eu sei disso. Chegará ela alguma vez a concluir as aulas? Voltará sequer a subir a um veículo de duas rodas?

Tenham cuidado aí fora.

5 comentários:

Paulo disse...

E os táxistas, e os condutores que quando nos vêem deitam a cinza e as beatas pela janela, e cospem.
E aqueles que nas filas, ficam com inveja.
Mas quando ando de carro também é parecido, por isso na minha modesta opinião, é um problema cultural, de educação e de civismo.
Mas há que continuar, sempre em 2 rodas.
Paulo

VCS disse...

A pergunta que gosto de fazer é a seguinte: quantos de nós aprenderam (no mais nobre sentido da palavra) a conduzir numa escola de condução? Presumo que ninguém esteja a pôr o dedo no ar ...

É triste que seja assim, é a inversão total da lógica, mas é a realidade. É muito importante a formação. A rodoviária e a cívica. A formação nos moldes actuais (que pouco mais é do que fazer oitos num parque de estacionamento) é praticamente igual a zero, para ser simpático.

No fundo, na prática, o (pretendente a)motociclista sempre esteve entregue à sua sorte.
Tal como essa rapariga que viste no chão.

Paulo disse...

Eu aprendi a gostar de motas e de Vespa no banco de trás com o meu Pai, na 50 e depois na 125, quando era miudo.
Aprendi a andar de mota com o sr. Quadrado, infelizmente já faleceu.

ana disse...

Eu também caí nas aulas e continuei. Felizmente nunca me aleijei severamente (sem ser umas nódoas negras). Pode ser que a moça se levante e continue. Ou que depois disto e da nova lei tire só a categoria B e compre uma 125 :)

Bessa disse...

Pois, mas ela não caiu, ela levou com um carro em cima... E tu, quando é que voltas a andar de mota?? : )